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sábado, 17 de julho de 2010

Foram vocês

Quando Jader Barbalho elegeu-se governador, em 1982, era um homem de posses modestas, mas, quando transmitiu o cargo, em março de1987, já demonstrava evidentes sinais de riqueza incondizente com a remuneração percebida no cargo que ocupou por quatro anos.
Porém, isso foi pouco se comparado com o patrimônio amealhado por Barbalho, a quando do exercício do Governo do Estado pela segunda vez, de 1991-1995. Foi uma gestão marcada por tantos casos conturbados que, certa feita, ao proferir voto em separado na Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) que apurava a farra de desvio do dinheiro público por empreiteiras contratadas pelo governo estadual, o então deputado Zé Carlos Lima chegou a afirmar que os recursos públicos desviados dariam para comprar, àquela altura, milhões de cestas básicas, bem como dariam para construir centenas de milhares de casa populares.
Em 1995, quando transmitiu o cargo para o desafeto de longas datas e hoje aliado, Almir Gabriel, deixou além do cargo um trágico legado social. 56,4% dos paraenses em situação de pobreza absoluta( rendimento médio de até meio salário mínimo por pessoa de cada família, mensalmente); e 23,4% em condições de pobreza extrema( rendimento mensal de 1/4 de salário por pessoa da família). Lembrando que hoje a cesta básica, por exemplo, consome 46% do SM; naquela época, consumia 100%. Ou seja, Barbalho saiu mais rico do governo. No entanto, deixou 80% da população paraense vivendo dentro de um padrão haitiano de miséria, algo que levou quase duas décadas para começar a ser revertido, só ocorrendo a partir de 2003, quando surgiram os programas sociais do governo Lula, e mais amiúde a partir de 2007, com a parceria entre Governo do Estado e Governo Federal, beneficiando mais de 1,2 milhão paraenses.
Por isso, diante desses fatos, chega a causar revolta a manchete estampada ontem pela futrica barbálhica(Diário do Pará) enfatizando que o "Pará patina na miséria e na pobreza", não só pelo cinismo sorrateiro de quem encena não ter responsabilidade com a pobreza gerada no Estado durante os séculos em que as elites governaram sem qualquer limite imposto pela decência, mas, também, pela calhordice que revela a face cruel desse tipo de político.
Lembra um fato bastante conhecido, mas sempre útil de se citar por ilustrar qual o padrão comportamental dessa camarilha. Diante do extraordinário quadro de Pablo Picasso, Guernica, que retrata a selvageria do franquismo durante a Guerra Civil espanhola, um esbirro franquista, com a cara de idiota que lhe era própria, perguntou desdenhoso ao pintor espanhol, "foi o senhor que fez isso?" E Picasso o fulmina ironicamente respondendo, "Não. Foram vocês!" É isso.

Jorge Paz Amorim

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