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terça-feira, 13 de julho de 2010

AFEGANISTÃO – conclusão “vitoriosa”

Ao comparecer perante o Comitê das Forças Armadas do Senado dos Estados Unidos, o general David Petraeus, nomeado na passada quarta-feira pelo presidente Barack Obama para encabeçar as tropas da NATO no Afeganistão, sustentou que o conflito que desenrola na nação centro-asiática se encontra numa «situação pouco clara» e prognosticou que o cenário de violência naquele país «será mais intenso nos próximos meses».
Como caminho a seguir, o militar apoiou a estratégia traçada pela Casa Branca e o Pentágono, que consiste em chegar a uma «conclusão vitoriosa» da guerra e iniciar a retirada das tropas em Junho de 2011, se bem que tenha indicado que este prazo deve ser entendido como o «começo de um processo, não a data em que os Estados Unidos vão sair do Afeganistão».
As declarações de Petraus juntam-se às formuladas no passado domingo por Leon Panetta, diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, que reconheceu que a Guerra no Afeganistão é «mais dura e lenta do que o previsto» e que persistem sérios problemas em matéria de governabilidade, combate à corrupção e erradicação da insurreição talibã.
Os posicionamentos de ambos os funcionários inscrevem-se no clima de crescentes tensões e confusão entre os membros das equipes militar e civil de Washington encarregadas de gerir a ocupação e a guerra no território afegão. Tais discrepâncias, que na passada semana redundaram na remoção do general Stanley McCrystal – por, numa entrevista, ter criticado duramente a administração Obama pela sua estratégia no Afeganistão – e na sua substituição pelo general Petraeus põem em evidência as quase nulas possibilidades de êxito de uma aventura que se torna mais violenta e insustentável com o passar do tempo: o que no final de 2001 parecia uma simples vitória militar e política – a expulsão do regime talibã de Cabul e a posterior formação de um governo títere presidido por Hamid Karzai – acabou num conflito pantanoso e sangrento em que os civis afegãos morrem aos milhares em conseqüência dos «erros» das forças ocupantes, que nas últimas semanas se desgastam a um ritmo crescente: só no mês de Junho morreram naquele país mais de 100 soldados estrangeiros, número que coloca este mês como o mais mortífero para as tropas invasoras desde que teve início a ocupação, há já quase nove anos.
Tal como no Iraque, os verdadeiros beneficiários da invasão e da devastação do Afeganistão não foram os habitantes da nação agredida, mas os poderosos interesses corporativos da indústria militar estadunidense e européia, que aproveitam a guerra a destruição e o sofrimento humano para gerar vultuosos lucros. Sobre isso, são significativos os contratos recentemente assinados entre a presidência de Barack Obama e a empresa Blackwater, por uma cifra calculada em 220 milhões de dólares para se encarregar da segurança no Afeganistão: a referida empresa, que em Setembro de 2007 se viu envolvida na matança de 17 civis iraquianos num tiroteio ocorrido em Bagdade, faturou ao governo dos Estados Unidos cerca de mil e 500 milhões de dólares nos últimos oito anos.
Como se depreender das declarações de Petraeus e Panetta, o compasso de espera até Julho de 2011 para iniciar a retirada das tropas invasoras redundará em quotas adicionais de devastação e morte. Pelo bem da martirizada população afegã, e para, em certa medida, voltar a dourar a credibilidade de Obama junto da opinião pública nacional e internacional, é preciso que o mandatário estadunidense mostre a grandeza de espírito e a altura de estadista necessários para reconhecer a pertinência de terminar, quanto antes, com a desastrosa aventura bélica em território afegão.

Editorial de la Jornada

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