http://twitter.com/alcirfmatos

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Homeless...a vergonha urbana

Debaixo da ponte mora um homem.
E o que restou de sua familia.
De repente, a ponte em si mesma perdeu importância. De fato, ela atavesa o espaço de uma extremidade a outra, para levar nada a lugar nenhum.
Debaixo da ponte mora um homem.
O homem tem uma história de desemprego e de êxodo para contar. O noticiário da TV contou essa história, mas não aconteceu nada. As grandes notícias de homens bem sucedidos na politica, nos negócios e até no amor continuaram a correr por cima da cabeça do homem que mora debaixo da ponte, junto com o que restou de sua familia.
Qualquer dias destes virá um mandato judicial e o homem será despejado de sua vivenda, junto com a familia que restou.
É provavel que ele tenha de buscar uma nova caverna, incrustada em alguma escarpa de concreto, perdida nos socavões urbanos, onde morama raças enjeitadas, inquilinos da pré-história do terceiro milênio.
Por enquanto, debaixo daquela ponte, continua morando um homem.
E o que restou de sua familia.
Na verdade, não é um morador comum.Seria um homem, com direito a sobrenome e CPF, extrato de conta bancária chegando ao endereço certo, não fosse o número que tem gravado na face, como qualquer prisioneiro de campo de concentração.
Não é um homem, propriamente, aquele que mora ali, debaixo da ponte mostrada pelo noticiário da TV.
É uma estatística.
Um número a mais nesse imenso campo de concentração que reúne a céu aberto todos os excluídos deste país.
São vidas ao relento.
Em Auschwitz e em Treblinka, os parques de diversão do holocausto Nazista, os condenados tinham mais conforto. A morte morava ao lado, porém, ao menos, as paredes em redor dos seus corpos e o teto por cima de suas cabeças garantiam a noção de humanidade que esse vivente debaixo da ponte não pode ter.
Debaixo da ponte, mora um homem e o que restou de sua familia.
Por cima de suas vidas ao relento, vão rolando histórias de outras criaturas muito mais felizes, que nem sabem de sua existência.
São histórias que , nos dias de hoje, dá até vergonha contar.....
Luiz Crispim

Nenhum comentário:

Postar um comentário