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domingo, 18 de abril de 2010

Anônima

Ela não tinha rosto, os relógios da cidade marcavam apenas as horas da fome dos transeuntes fossem eles que fossem; meninos moleques, balzaquios boêmios, pobres, pretos mulatos, serenos sisudos, insanos servis, tanto faz. Da fome a morte não passava, nesta vigília os olhos eram frágeis, os corpos débeis, as mãos tremiam e a dignidade tornava-se pífia. Ela não tinha sorte, as ruas das cidades eram seu leito de morte e vagante na inanição tragava o cheiro da donzela sem dotes que adormecia nos umbrais da belle époque, para a incerteza do dia que viria acordá-la entre os badalos, as sirenes, os semáforos e a singela dor. No rosto anônimo mesmo sugado e ao relento ainda há de se encontrar força para ouvir o flautear da louca meretriz que todos viam passar naquela hora, tempo, e espaço.
Dário Azevedo.

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