A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvelo seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levantaa saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,também sou filho de Deus,me deixa desesperar.
Ela responde passandoa língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pée vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
Adelia Prado
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