Plínio de Arruda Sampaio foi o primeiro candidato a presidente da República a ser perguntado (escolhido em sorteio prévio) no primeiro debate pela televisão da eleição/2010, na quinta-feira, dia 5, pela TV Bandeirantes. Levantou-se, fez aquelas saudações de praxe e foi logo esperneando, mais ou menos assim: “Vocês devem estar surpresos, eram só três candidatos e agora aparece mais um, e tem mais...” (referência a ele próprio e mais cinco candidatos “invisíveis” da corrida presidencial).
O candidato do PSOL tentou, desde o primeiro momento, dizer: olha eu aqui, represento um partido de esquerda, estou aqui em nome dos movimentos sociais, tenho propostas alternativas, diferentes dos três candidatos aqui presentes (são os que mais aparecem na imprensa: Dilma Rousseff, do PT, a candidata do popular Lula, já francamente favorita; José Serra, do PSDB, a cada dia mais abandonado pelos ex-companheiros; e Marina Silva, do PV, que não fede nem cheira), os três têm muita convergência, eu sou a divergência, represento a defesa da igualdade social contra a desigualdade do sistema, “quero derrubar o muro que separa o povo da perspectiva de justiça social”.
E foi esgrimindo com três pontos básicos, tentando mostrar que era mensageiro de uma outra visão, tentando demonstrar que, dentre os quatro candidatos, somente ele defendia a limitação da propriedade da terra em mil hectares; somente ele defendia a redução da jornada de trabalho sem redução do salário; e somente ele era contra dar anistia aos desmatadores de florestas.
Discriminado também no debate, conforme se queixou – as perguntas, claro, iam mais para Dilma e Serra, pois apenas um dos dois pode ser presidente, segundo está escrito nos anais de uma espécie de conspiração paracelestial -, Plínio de Arruda Sampaio, do alto dos seus 80 anos de integridade e coerência, buscava aproveitar aquela rara oportunidade para dar o seu recado. Apesar do seu porte elegante e respeitável, poderia lembrar um afogado buscando desesperadamente um pouquinho de ar para saciar os pulmões.
Falta liberdade de expressão
Na verdade, este quadro é o retrato da falta de liberdade de expressão das forças de esquerda, ou pelo menos de uma esquerda mais autêntica, mais radical, estigmatizada como sonhadora e ineficaz, não só pela direita, mas também por uma esquerda mais flexível, pragmática, muito mais exitosa, como a que está embutida em partidos como o PT, PV, PC do B, PSB e até PMDB. Talvez o estigma tenha razão de ser, mas se não há participação popular e suas posições mais radicais não chegam ao povo, como vamos saber? Fica aquela velha discussão sobre o sexo dos anjos.
De modo geral, os meios de comunicação não dão espaço à esquerda, e pior, criminalizam os movimentos sociais, normalmente afinados com os partidos de esquerda. No caso do processo eleitoral, há um argumento forte para manter os mais radicais escondidos: seus candidatos quase não pontuam nas pesquisas de opinião. Além de Plínio, concorrem também nesta disputa presidencial Zé Maria, do PSTU, Rui Pimenta, do PCO, e Ivan Pinheiro, do PCB. A massa do eleitorado nem sabe da existência deles, assim como dos demais que não aparecem nas pesquisas. (O critério para participação de Plínio no debate foi baseado na legislação eleitoral: seu partido, o PSOL, tem representantes no Congresso Nacional, assim como o PT, PSDB e PV).
Fenômeno na política brasileira
Enquanto isso, a direita, ela própria, trata de se esconder, não há um só político que se apresente como de direita. Há um fenômeno na política brasileira que, volta e meia, eu matraco, porque considero um fenômeno extraordinário: não existe direita na política brasileira, extrema-direita, nem pensar! – pelo menos é o que se deduz do noticiário dos jornais, rádios e TVs. Não existe! É isso? É isso mesmo, não existe!
É justamente por isso que José Serra se apresentou no debate da Band, ao traçar sua breve biografria, como defensor histórico do petróleo brasileiro e da Petrobras e ainda da reforma agrária – vejam só! até da reforma agrária, uma bandeira hoje já arriada até pela esquerda que cito acima como mais exitosa. Além de lembrar que foi líder estudantil, presidente da outrora combativa União Nacional dos Estudantes, a legendária UNE, e que esteve exilado 14 anos. Ou seja, a biografia de um perfeito esquerdista.
Não disse, óbvio – e ninguém lhe perguntou sobre tais coisas -, que ultimamente vem se alinhando com “teses” da extrema-direita, creio até que forçado pela circunstância de sua solidão política, amenizada pela companhia às vezes incômoda dos antigos arenistas/pefelistas, hoje adotando a sigla DEM, chamados “democratas” – vejam a falta de respeito com as palavras (ou seria ironia?).
Serra (quem diria?) na extrema-direita
É o mesmo José Serra que, como governador de São Paulo, reprimiu duramente os professores e policiais em greve; é o mesmo que, como ministro de Fernando Henrique Cardoso, apoiou o entreguismo de empresas estatais no vergonhoso processo de privatizações; é o mesmo que repete aleivosias da extrema-direita acusando o presidente Evo Morales, da Bolívia, de envolvimento com traficantes de drogas, ou acusando o PT de ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs); é o mesmo José Serra que, como dizem críticos mordazes, parece querer o lugar do mal-afamado Álvaro Uribe (que deixa a presidência da Colômbia neste sábado, dia 7) como capataz do império estadunidense, contra a política de integração soberana da América Latina, apoiada pelo presidente Lula e pela candidata Dilma.
Pois é, este é um dos aspectos que se pode analisar a partir do primeiro debate na TV das eleições/2010: a esquerda querendo se mostrar e a direita, como sempre, se escondendo. Quantos eleitores chegam a perceber tais nuances, quantos estavam ligados no debate? A maioria na capital paulista, creio, estava ligada na TV Globo vendo a decisão da Copa Libertadores entre o São Paulo e o Internacional.
Comentei com um empregado do meu hotel que eu ia assistir ao debate dos candidatos na TV:
- Vai ser que hora? – ele perguntou.
- Às 10 horas – respondi.
- Ah! na hora do jogo!? – a frase teve um certo tom de protesto.
Postado por Ananindeua Debates
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