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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Faz tempo, muito tempo, que a roda da vida me afastou de ti. Trouxe-me a sensação que já me eras prescindível, que poderia perfeitamente viver sem o acalanto de tua companhia, nos labirintos que a solidão dos mundos nos propõe como equação de vida. Faz tempo, tanto tempo, que o mar não mais é a minha companhia nem o ensurdecedor matracatear das máquinas propulsoras o meu leviatã criador e isso me fez pensar em auto-suficiência criativa, sem que a poesia e sua musa não mais se fizessem necessárias, como o ar que me enche de vida nestes 60 anos que já consegui. Mero engano... bastou um segundo te rever, qual vulcão desperto e alucinado na escuridão das cinzas dessa nossa paixão adormecida, num horizonte que a mim se afigurava distante e inacessível, para que despertasse também em meu velho coração de poeta esse desejo louco de te amar de novo, com a mesma fúria avassaladora dos raios e ventos da Yansã, que te rege, com o mesmo crepitar do fogo de Xangô que me purifica. Faz tempo que esse temporal não me açoitava tanto, qual degenerado chicote dos deuses, me despertando desejos e a ânsia criadora dos comuns, como se despertam os furacões dos templos sagrados dos mundos. Faz tempo que nem me lembrava o quanto ter queria tanto e o quanto me és imprescindível pra viver. Vem; faz de teu colo outra vez meu ninho, de teu peito de fêmea a minha fonte de vida e de tuas ancas de égua no cio o meu rejuvenescer poético. Vem; traz-me a esperança de ainda poder te amar por inteiro, fazer amor até o amanhecer dos tempos e até morrer se preciso for pra te ter eternamente amada. Vem e me leva de volta ao paraíso de teus brancos braços, me crucifica no vértice de teus pêlos louros, faz de mim o teu dândi a te penetrar inteira, me faz teu homem a te fazer mulher, me faz poeta até o final dos tempos.

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