Para falar de mim, tenho que falar dos que também navegam. Cada um do sue jeito, dão um colorido a mais aos mares e rios.
Conheci alguns que singram em caravelas. Aquela sabedoria ancestral, a força, as velas içadas.
Acolheram-me como se as velas deflagradas fossem redes para embalar sonhos tranqüilos, soneca em casa de avó.
Ensinaram-me sem saber que o faziam, como quem compartilha um doce. Beijaram-me a fronte, sem se importar se eu era um melequento. Segurança, paz. Que bom saber que existem pessoas que depois de tantos anos dançando com as ondas, permanecem imponentes, cientes da sua experiência. Que frota linda o meu Almirante tem. Outros preferem lanchas. Jovialmente encaram as ondas, riem das valas deixadas pelas embarcações maiores. Aos poucos, aos muitos, não importa, o que vale é a velocidade. Puerilmente ousados lançam-se de cabeça, intensos, apaixonados, apaixonantes.
Verão sempre! No máximo uma primaverazinha! De vez em quanto.Infelizmente, conheci o remake contínuo do Titanic... Sempre orgulho, entranhado como se fora seu gene.
A beleza ostentada, os porões abarrotados de ratos, dejetos, doentes, sujos e pobres.
Celine Dion está rouca!
Canto forçado, estranho, infeliz, da tragicomédia humana, da loucura que originou o Mal.
Celine Dion está rouca!
Canta, canta e grita a morte anunciada pela presunção.
Celine Dion está afônica... remake contínuo do Titanic.
E ele sempre vai a pique.
Quanto a mim, vou de “pô-pô-pô”, onomatopéia para o barquinho amazônico, do rio-mar barrento. Romântico, com os botos e pirarucus à volta. Com o cheiro de mangue, com fiapo de manga no dente. Vou de “pô-pô-pô”! Feio, pequeno. Porém de verdade.
Não sou de Holywood. Sou o barquinho que quer glorificar seu Deus pela singeleza.Já não tenho a velocidade frenética das Lanchas. Talvez nunca chegue a Caravela Mas posso apreciar a paisagem.
Céu, terra, rio, mar.
Pontinho preto no meio de tudo?
Eu.
Respingado, saudoso, corajoso, perdido.
Respingado de Céu,
O máximo que posso conter São gotas.
Orvalho, chuvisco, gotas.
Amor e graça em gotas.
Pontinho preto encharcado de Céu?
Eu.
Saudoso de terra.
Da terra em que fui gerado.
Do colo de mãe.
Carinho de pai.
Terra nas unhas, pé machucado pelo futebol ruim.
“Chuta a bola e não o chão, menino!”
Choro, casa, colo, carinho.
Pontinho preto choroso da terra?
Eu.
Corajoso de rio.
Um curso, correnteza.
Uma imediata no mesmo barco.
Planos, sonhos, metas
Avolumando-se juntos as águas.
Riachos deságuam, impulsionam, empurram pra frente.
Pontinho preto desafiando o rio?
Eu.
Perdido no mar.
Imenso, desconhecido, mar.
Muito maior que as gotas.
A terra engolida por suas ondas.
O rio bebido por sua força.
Final de tudo, o mar.
Lá onde meu Almirante está.
O extraordinário, imenso, intenso.
Pontinho preto absorvido pelo mar?
Eu.
Ao meu Almirante, louvores.
Aos navegantes, coragem!
À minha imediata, beijinhos.
Aos que permanecem no porto, meus pêsames.
ALCIR, o filho