altar de minhas profanas práticas de sexo.
O deus desenhado em teu rosto impuro,
coloca em meus ombros a cruz do amanhã incerto.
Sigo os caminhos tortuosamente seguros
das danças e ondulações de teu ventre.
O peso de minha cruz se anula docemente
nas buscas insolentes de teus desejos de mulher.
II
Segue satanás! e luta com os arcanjos
disfarçados em óvulos e espermatozóides.
Trava a última batalha na trompa de Falópio,
faz cumprir o divino ritual das ações e reações.
Surge Gabriel, arauto de vitórias,
proclama Cristo sem demora
aquele último resistente da devastação.
Faz desse ovo o novo negro Cristo
e do útero ninho a nova manjedoura,
berço da negra nova civilização.
III
E que se ergam labiais portas,
que se dilatem sacros templos;
o negro Cristo segura seus 33 caminhos...
Será Ângela Davis a nova Madalena
E guetos e senzalas a terra em promissão.
Foge Judas encapuzado e triste,
é alta a cotação na bolsa de valores.
Não sabes tu, que o afro amor existe?
E o negro Cristo não precisará de ti.
Vem Tomé, apalpa suas chagas
produzidas em milênios de escravidão.
Carrega para a tuba o corpo retalhado
nos porões de um navio negreiro.
E presencia o último “apartheid”
no mago fenômeno da ressurreição.
Vê Classius Clay novo evangelista.
Hendrix, Luther King e Jorge Bem.
No canto triste do Harlem favelado,
a nova lição do Cristo revelado,
de que negro é muito mais
que simplesmente “beautifull”.
Segue o negro Cristo a sua trajetória,
levando docemente a nova branca cruz.
Missão cumprida, parte com a aurora,
deixando a nova lei na África do Sul.
IV
Faço do teu corpo todo um mundo agora
e vislumbro cristandades mortas de cansaço.
Ergo-me na embriaguez sonolenta do luar diurno
e crucifico-me na armação de teus brancos braços.
Sou o negro Cristo adormecido e bruto.
Contigo, percorro em sonho o meu amanhecer.
Talvez não consigamos o novo negro Cristo,
mas meus descaminhos contigo vou viver.
Mais vale o deus sem cor, que em verdade somos;
A profissão de amor de nossa unidade.
Mais vale o teu calor a afagar meus sonhos
E só em nós viver toda a humanidade.
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