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domingo, 6 de setembro de 2009

EPÍSTOLA UNIVERSAL DO NEGRO CRISTO

Faço do teu corpo um templo profundo,

altar de minhas profanas práticas de sexo.

O deus desenhado em teu rosto impuro,

coloca em meus ombros a cruz do amanhã incerto.

Sigo os caminhos tortuosamente seguros

das danças e ondulações de teu ventre.

O peso de minha cruz se anula docemente

nas buscas insolentes de teus desejos de mulher.

II

Segue satanás! e luta com os arcanjos

disfarçados em óvulos e espermatozóides.

Trava a última batalha na trompa de Falópio,

faz cumprir o divino ritual das ações e reações.

Surge Gabriel, arauto de vitórias,

proclama Cristo sem demora

aquele último resistente da devastação.

Faz desse ovo o novo negro Cristo

e do útero ninho a nova manjedoura,

berço da negra nova civilização.

III

E que se ergam labiais portas,

que se dilatem sacros templos;

o negro Cristo segura seus 33 caminhos...

Será Ângela Davis a nova Madalena

E guetos e senzalas a terra em promissão.

Foge Judas encapuzado e triste,

é alta a cotação na bolsa de valores.

Não sabes tu, que o afro amor existe?

E o negro Cristo não precisará de ti.

Vem Tomé, apalpa suas chagas

produzidas em milênios de escravidão.

Carrega para a tuba o corpo retalhado

nos porões de um navio negreiro.

E presencia o último “apartheid”

no mago fenômeno da ressurreição.

Vê Classius Clay novo evangelista.

Hendrix, Luther King e Jorge Bem.

No canto triste do Harlem favelado,

a nova lição do Cristo revelado,

de que negro é muito mais

que simplesmente “beautifull”.

Segue o negro Cristo a sua trajetória,

levando docemente a nova branca cruz.

Missão cumprida, parte com a aurora,

deixando a nova lei na África do Sul.

IV

Faço do teu corpo todo um mundo agora

e vislumbro cristandades mortas de cansaço.

Ergo-me na embriaguez sonolenta do luar diurno

e crucifico-me na armação de teus brancos braços.

Sou o negro Cristo adormecido e bruto.

Contigo, percorro em sonho o meu amanhecer.

Talvez não consigamos o novo negro Cristo,

mas meus descaminhos contigo vou viver.

Mais vale o deus sem cor, que em verdade somos;

A profissão de amor de nossa unidade.

Mais vale o teu calor a afagar meus sonhos

E só em nós viver toda a humanidade.

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